terça-feira, 4 de agosto de 2009

quando tenho raiva de quem é feliz

Em mais uma noite fria dos esteios gaúchos, eu e meu irmão conversávamos de o quanto esteienses eram as ruas pelas quais nós percorríamos, o quão nos era familiar aquilo tudo e o quanto amávamos aquelas ruas tortas com calçadas desiguais e sujas.
Naquela altura já era pura melancolia, saudade de uma ausência que estava ali presente, uma saudade que como dizia Renato Russo "de tudo que eu ainda não vi", saudade de algo que não que havia acontecido, mas de algo que sabíamos que podia acontecer, até hoje não consegui decifrar se o que gosto é da melancolia ou de poder forjar melancolia por não saber exatamente como ela é.


Só sei ques as lombas disformes e os quebra molas mal pintados destas nossas ruas me levam a pensar tudo isso; sob noites vazias e os latidos dos cachorros que de tão altos já não perturbam mais os intocáveis trabalhadores e seus sonos sagrados, penso no potencial de tristeza que minhas ruas têm.
Mas o pior de tudo é que sei, que debaixo das janelas amarronzadas, que sob os edredons remendados cheirando a bolo frito e café com leite, as vidas dos meus se diferem dois ideais melancólicos que sonhei pra eles. As suas felicidades me irritam, não estão nos meus planos, não sei se confundo recalque com inteligência, mas sei que assim justifico minha acidez. Pobres coitados felizes, há se fossem felizes como eu e pudessem gozar da felicidade alheia!!! ...mas será que é essa a minha felicidade?...querer que os outros não a tenham?


Não idealizo um final ou um meio de história infeliz pra mim, mas me importo com o desfecho da história dos outros. Ás vezes acho que o álcool não é uma saída, depois me convenço e bebo mais um gole pra esquecer da minha felicidade e tentar cavar morbidez em mim. Enquanto não acho, procuro nos outros, aqueço meu café e amarro e desamarro minha manta até achar o nó perfeito.

Também sei que só o frio me deixa assim. Também sei que sob verão minha cabeça se embebeda de sol e evita minha maldade; minha intolerância -a base do meu humor e de tudo que eu consigo elucidar- coloca as pernas de fora exatamente quando faz mais frio, quando as bundas das mulheres se tapam e seus espíritos ficam a mostra.

Andrew Augusto

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