quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O MILAGRE DA TRANSFORMAÇÃO DA ÁGUA EM CERVEJA


Contar história é fascinante, quanto mais tempo ela tenha, mais rica, impressionante e distante da possível verdade ela fica; cabe ao interlocutor ter o discernimento de filtrar e reconhecer os meandres da história e principalmente compreender o contexto em qual está envolvido o contador e sua época, talvez assim, tenhamos uma história menos mentirosa.

A sociedade ocidental tem muitas histórias imutáveis, em um universo que a religião contribui muito para que isso aconteça, pois muitas delas confundem-se com dogmas, provações de fé e etc; mas é papel da história desvendar as mesmas, analisando os fatos sob a luz da razão e com um mínimo de senso crítico e claro... bom humor, de quem conta e de quem ouve.

Por isso digo que, ao me deparar com o prazer pela cerveja e por todo o universo que a circunda, estudar a história dela tem sido um dos meus grandes prazeres. Sobre a história da cerveja, sempre me impressionou a relação que esta bebida tem com convenções religiosas, mosteiros, abadias, conventos e etc, e essa relação tem sido um objeto de estudo e de minha atenção a algum tempo.
De certa forma, é óbvia a ligação da cerveja com o mundo divino cristão pois até Jesus Cristo bebia cerveja.

No famoso episódio em que Jesus transforma água em vinho, uma série de histórias mal contadas rondam esse episódio. Vinho no Oriente Médio não era uma bebida de alcance popular, em tempos de dificuldade, onde os coletores do Império Romano cuidavam de usurpar quase toda a população ocidental conhecida, o vinho, bebida fermentada quase sempre de uva, de cuidado especial na sua feitura e preço também especial, não era uma bebida que circulava as mesas ou rodas de conversa dos populares na antiguidade.

A cerveja surgiu do armazenamento de grãos em jarros, em que estes mesmos grãos, juntos com água e o natural processo de fermentação e do calor, acabaram por dar origem a cerveja. Por isso sua relativa facilidade no processo de fabricação e a abundância da oferta de grãos, fez com que a cerveja fosse a bebida popular dos primeiros séculos do calendário romano, e alguns séculos antes disso também.

O vinho, como prova de uma bebida aristocrática, pertencia as rodas mais altas da sociedade grega, pois ajudava a abrir a mente de debatedores e políticos, inflamando as discussões dos filósofos; filósofos esses que pertenciam segundo a república de Platão, o topo da cadeia social, seguido por soldados e artesãos. Definitivamente o vinho não era e ainda não é uma bebida de povão.

Naquele casamento em Canãa em que Jesus é convidado, ao que tudo indica, os recursos dos noivos não eram os melhores nem maiores possíveis, a falta de bebida é uma prova disso, provavelmente não era vinho que os noivos ofereciam aos seus convidados, não era costume das grandes festas populares o consumo do mesmo, mais a bebida fermentada a qual a bíblia diz, tratava-se, ao que tudo indica, da cerveja.

Jesus exalta a fabricação da cerveja nesta passagem: "-“Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que RECOLHAIS o vosso grão, e o vosso MOSTO e o vosso azeite.” (Dt 11:14).

Temporã significa a chuva para germinar o grão, e serôdia é o tempo para a germinação do grão, e mosto, óbvio, a cerveja no período da brassagem (cozimento da água com a cevada).

Paolo Veronese, importante pintor renascentista italiano, em suas telas:
"Banquete na casa de Levi"
o artista não é um reprodutor da verdade, mais suas telas são frutos de extensas pesquisas realizadas pelo artista, que como seus colegas pintores contemporâneos, tentavam a partir das telas religiosas expressar uma opinião e uma forma diferente de compreender a sociedade em tempos de domínio e ditadura clerical.

No primeiro quadro, que retrata um banquete da aristocracia romana, nota-se jarros metálicos que melhor preservam a bebida, garrafas cilíndricas, e outros jarros menores de boca apertada, ideais para a preservação do vinho. No segundo quadro, um casamento, uma festa popular, percebemos jarros largos, rústicos, servidos de maneira grossa e em quantidade; vasilhames largos assim com certeza transformariam o vinho em vinagre em pouco tempo, só uma bebida fermenta e é servida sob essas condições, a cerveja.

Não é a toa, que a bebida fermentada citada na bíblia tenha sido interpretada de formas diferentes, para os Apostólicos Romanos, aristocratas e bebedores de vinho, fica como sagrada a bebida fermentada a partir da uva; para os protestantes, ou católicos bávaros, germanos, saxões, eslavos e etc, a bebida fermentada a qual a bíblia cita, é a que era possível para a sua realidade, a cerveja, por isso observamos até os dias de hoje, essa relação de mosteiros, conventos, abadias e etc, com a fabricação da cerveja, e não é a toa que as melhores estejam saindo até hoje de lá.

Por isso ressalto que a história deve ser recontada, Jesus transformou ÁGUA EM CERVEJA e se até o Filho Dele bebia, o ato de sorver uma cerveja com todos seus sabores e aromas é honrar a própria glória divina!

Ou seja... mais uma desculpa pra beber...


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